quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O retrô que está na moda














Não haveria nada mais retrô do que escrever estas linhas em uma máquina de escrever, mas infelizmente a minha Olivetti verde oliva já não existe mais. São hábitos que se tornaram obsoletos com o tempo, mas que para algumas pessoas continuam a ser parte do dia a dia. Hoje, o retrô é fruto para bons negócios e alimenta um mercado fiel.

Filmes fotográficos, páginas amarelas, walkman, discman, vinil, disquete, fita VHS, orelhão, ficha telefônica, tostex e tantos outros são itens de época que deixaram lembranças tão fortes, que criaram um estilo de vida para quem não quer abandonar as raízes. É como viver constantemente na casa da vovó.

Segundo a professora de Moda da Universidade Gama Filho, Patrícia Guimarães, [a1] o retrô é uma tendência que veio para ficar, pois remete a um sentimento de uma vida que não volta mais.

E aqueles que levantam a bandeira do estilo sabem muito bem como definir o que sentem. Para o gastrólogo e educador David Roges, "ser retrô é ser saudosista para os que viveram nos anos 60, 70 ou 80, extraindo a essência e os gostos memoráveis da época". No caso dele, o seu mundo retrô está representado na mistura da gastronomia e da música para o resgate de lembranças. "Quando uma pessoa diz: 'Nossa, este prato me lembra uma situação X, num lugar Y, com a pessoa Z, ouvindo a música do cantor J, que entoava o refrão W', dizemos que ela está inserida no domínio sinestésico do ver, ouvir e sentir emotivo. Logo, o resgate dos sabores e da sonorização nos remete ao ontem. E em doses homeopáticas, vale a pena ver, sentir e ouvir de novo", explica Roges.


Roupas da moda

As irmãs Kainara e Kauana Miranda Soares, saudosistas do retrô, remetem a um momento totalmente lúdico. "O retro é algo que nos remete a um tempo agradável que não volta mais, em que as pessoas eram reais, existia 'bom dia' e as crianças brincavam na rua. Nós nos sentimos mais felizes e satisfeitas dessa forma." Kauana Miranda, de 29 anos e que atua em Recursos Humanos. E ela tem a reposta pela paixão na ponta da língua. "Saltos altos foram muito usados no estilo romântico, e hoje fazem sucesso entre os amantes do estilo retrô."

Já Kainara Miranda, recepcionista, apesar de ter apenas 19 anos, é um exemplo precoce do estilo retrô. Apaixonada por pin-ups, ela faz questão de estampar o estilo em seu dia a dia. Para ela, as pin-ups passam a imagem de mulheres decididas e com estilo definido, requintadas e elegantes. E quando é questionada sobre como as pessoas enxergam seus costumes, Kainara brinca: "Já ouvi muito comentário tipo: 'Que roupa de tia, pegou da sua avó?' Mas, em contrapartida, tenho vários amigos que acham bacana e dizem que gostariam muito de usar esse tipo de roupa e ter costumes retro."

E Kainara sabe o que está falando, segundo afirma Patrícia Guimarães: "Existem grupos sociais que valorizam o look retrô, alguns até como forma de protesto contra o fast fashion, que uniformiza as pessoas de acordo com as tendências de moda. O look retrô, quando é original, realmente adquirido em brechós, é único, super exclusivo! Por isso, valorizado. A moda sempre busca inspirações em décadas passadas, fazendo uma releitura das peças com os materiais atuais, mais desenvolvidos tecnologicamente. Estamos sempre vivenciando o retrô até sem perceber."


Um bom negócio

Mas não é só a moda que sabe aproveitar bem a linha retrô. A Schincariol, por exemplo, não só apostou em relançar o refrigerante – ícone dos anos 80 – agora com o nome de Itubaína Retrô, como também lançou o blog e a Itubaína Rádio Retrô (www.itubainaradioretro.com.br), com o intuito de relembrar bons tempos e resgatar as músicas que fizeram[a3] . No ano passado a Atari também fez sua releitura do modelo VCS 2600, de 1982, que trazia os jogos Combat e Pac-Man. A versão ganhou o nome de Flashback + 2, que incluía no pacote uma camiseta e mais 40 jogos. A edição foi vendida por um prazo limitado. E, recentemente, a Nescau lançou uma série limitada de latas em estilo retrô no mercado para comemorar os 79 anos do produto e 90 anos da Nestlé no Brasil. São quatro tipos de embalagem, que reproduzem grafismos de versões dos anos 1932, 1960, 1986 e 1998.

Alguma dúvida de que o mercado já percebeu que a releitura dos áureos tempos é a coqueluche do novo século? Na verdade, não só percebeu que soube investir no velho sem perder o frescor do novo. "O brechó virou tendência e também é oferecida pelas grandes cadeias de moda que detectam o comportamento de grupos lançadores de novos modelos. Até o designs de automóveis, eletrodomésticos, mobiliários também embarcaram nesta tendência com muito sucesso, pois foi detectado o desejo do consumidor por esse design retrô", explica Patrícia Guimarães.

A marca americana Nostalgia Eletrics traz uma série retrô que vai de minicooler à máquina para hot dog elétrica. De máquina de gelo a pipoqueira. Do liquidificador clássico à minigeladeira.

A Brastemp, que começou apenas com uma linha de frigobar, agora conta com refrigerados e fogão. Segundo o gerente geral de Design e Inovação da Whirlpool Latin America, Mário Fioretti, "quem move a criação destes produtos e os faz de fato são os próprios consumidores". A empresa conta que, para a criação da linha retrô, houve o envolvimento de diversas equipes, passando pelas áreas de design, tecnologia e marketing, que convergiram para o desejo do consumidor, manifestado com grande aceitação desde o lançamento do Frigobar Retrô, em 2007. "Foi necessário cerca de um ano e meio de trabalho, para que todos os elementos conversassem e trouxessem um equilíbrio entre o novo e o antigo", relata Fioretti.

Não há dúvida de que existe um aquecimento financeiro para o mercado do retrô. Trata-se de um estilo de vida que se aplica em vários bens de consumo, e que tem mostrado ter um público fiel, exigente e que busca maneiras de reviver os áureos tempos. Deu saudades do cheiro do almoço na casa da vovó? Então seja bem vindo ao retrô!


Fonte: Marketing GrupoM8

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